A coccidioidomicose, infecção fúngica que pode evoluir para casos graves, tem na caça do tatu uma de suas formas mais comuns de contágio
Febre, tosse, dor de cabeça e falta de ar. Esses são alguns dos sintomas da coccidioidomicose, infecção fúngica que pode evoluir para casos graves e tem em uma atividade ilegal — o crime ambiental da caça ao tatu — uma de suas formas mais comuns de contágio.
De acordo a infectologista do Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Lisandra Damasceno, o clima quente e seco do semiárido cearense favorece a proliferação da doença nas atividades que envolvem mexer no solo. “A coccidioidomicose acontece basicamente no nordeste, porque esse fungo gosta de locais de clima quente e seco. A maioria dos casos registrados está vinculada à caça do tatu, porque esse animal costuma construir suas tocas em lugares profundos no solo e os caçadores, ao revolver o solo, levantam muita poeira. Isso aumenta as chances de se infectar, porque os esporos dos fungos são levantados juntamente com essa poeira”, disse.
A médica infectologista explica que a doença também pode ser transmitida de outras maneiras. “A escavação do solo em situações como terraplenagem e escavação de poços profundos pode espalhar o fungo no ambiente. Em temperaturas muito altas, como acima de 37 graus, o fungo causador da doença se transforma em levedura e pode causar infecções sistêmicas, o que ocorre ao ser inalado ou ao entrar em contato com a corrente sanguínea humana”, explicou.
A profissional de saúde também orienta que a doença pode evoluir para pneumonia e outras infecções. “Temos registros de pessoas que apresentaram uma pneumonia aguda, poucos dias após terem esse contato com a poeira. Outras, desenvolveram pneumonias crônicas, com um tempo maior de evolução. Mas, a doença também pode ser disseminada em órgãos e tecidos, inclusive causando meningite. Os sintomas geralmente são febre, tosse, dor de cabeça, dor torácica e falta de ar. Em alguns casos, pode ser necessário o internamento para ventilação mecânica”, pontuou.
Para prevenir, Lisandra Damasceno orienta que as pessoas obedeçam à legislação ambiental e não cacem o tatu e, em caso de trabalharem com o revolvimento da terra, usem máscaras específicas. “As máscaras N95 e PFF2, possuem filtros com alta capacidade para partículas pequenas. A doença é totalmente curável se o paciente procurar o atendimento médico ao notar algum desses sintomas”, finalizou.
De acordo com o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) da Sesa, os primeiros registros da coccidioidomicose no estado datam do ano de 2015. Entre janeiro de 2015 e dezembro de 2017, foram notificados 15 casos, distribuídos em Fortaleza, Saboeiro, Arneiroz, Cariús, Icó, Irauçuba e Independência. Desses, três evoluíram para óbito em 2017, após os pacientes participarem de uma caçada a tatu. A atividade se revelou um importante fator de exposição.
Em 2023, foi instituído o Grupo de Trabalho (GT) de Micoses Endêmicas no Ceará, que passou a realizar levantamento sistemático dos casos, por meio de formulário eletrônico.
De 2023 a 2025, o GT registrou 22 casos de coccidioidomicose, sendo 15 confirmados laboratorialmente. Os registros estão distribuídos nos municípios de Apuiarés, Catunda, Fortaleza, Icó, Jaguaribe, Lavras da Mangabeira, Morada Nova, Orós, Parambu, Pereiro, Saboeiro, Solonópole e Tarrafas.