O estado de Sergipe conquistou um feito histórico ao registrar superávit comercial com os Estados Unidos da América (EUA) no primeiro semestre deste ano. As exportações do estado para o mercado norte-americano somaram US$ 54,5 milhões no período (cerca de R$ 303,5 milhões), o que representou 31,35% de toda a pauta exportadora sergipana. Há apenas dois anos, esse percentual era de 3,72%. Com esse desempenho, Sergipe se posiciona como um dos 20 estados brasileiros que mais exportam para os EUA, com destaque para os segmentos de petróleo e sucos cítricos.
No entanto, a forte presença no mercado americano também acende um alerta: a imposição de tarifas de até 50% por parte dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros pode representar uma perda de até US$ 100 milhões (aproximadamente R$ 550 milhões) para a economia estadual. Os principais produtos atingidos seriam o suco de laranja congelado, óleos essenciais cítricos e o óleo bruto de petróleo — juntos, eles representam quase 90% da pauta exportadora para os EUA.
O levantamento consta na nota técnica elaborada pela Agência Sergipe de Desenvolvimento (Desenvolve-SE), que analisa os dados da balança comercial entre 2023 e 2025. Segundo o documento, o saldo comercial entre Sergipe e os EUA, que era negativo em mais de US$ 75 milhões em 2023, tornou-se positivo em US$ 16,7 milhões no primeiro semestre de 2025.
A análise aponta ainda uma elevada concentração das exportações sergipanas em poucos produtos e em um único mercado. O petróleo bruto e o suco de laranja respondem por 87,8% das vendas externas aos EUA. Do lado das importações, mais de 90% dos produtos adquiridos são insumos energéticos, como gás natural liquefeito e coque de petróleo.
Esse cenário de dependência — tanto de produtos quanto de mercados — torna a economia estadual mais vulnerável a choques externos. O estudo da Desenvolve-SE aponta que a imposição de tarifas comerciais pode comprometer diretamente a competitividade dos nossos produtos. Só no caso dos sucos cítricos, estima-se uma perda de receita de quase R$155 milhões, com impacto de até 0,25% no PIB de Sergipe.
Estratégias
Apesar dos riscos, a nota técnica também destaca caminhos promissores. Entre as sugestões, está a diversificação da pauta exportadora com foco na agregação de valor. Um dos exemplos é o aproveitamento de subprodutos da laranja, como óleos essenciais e farelos para ração animal, além da atração de indústrias de cosméticos e alimentos que utilizam esses insumos.
Outra frente proposta é a mobilização de empresas e instituições para participar da Chamada Nordeste, iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que pode financiar investimentos estratégicos em inovação, sustentabilidade e modernização industrial. A iniciativa pode representar uma saída viável para empresas atingidas pelas barreiras comerciais impostas pelos EUA.
Mesmo diante das ameaças tarifárias, os Estados Unidos seguem como o principal destino individual das exportações sergipanas. “Fomos pegos de surpresa, mas montamos um grupo de trabalho para mapear os impactos e traçar estratégias. O impacto será sentido, é inevitável, mas nosso papel é buscar alternativas. A Agência já iniciou contato com empresas da cadeia produtiva para ajudar na abertura de novos mercados e mitigar os efeitos.”, avalia o presidente da Desenvolve-SE, Milton Andrade.
A agência defende a criação de um grupo de trabalho permanente sobre comércio internacional em Sergipe, reunindo representantes do setor produtivo, instituições de crédito, universidades e órgãos de fomento. O objetivo é estruturar uma agenda integrada para fortalecer as exportações do estado com inteligência, inovação e sustentabilidade.
Confira na íntegra da Nota Técnica da Desenvolve-SE .