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Coffee of the Year: pai e filha mostram a força da sucessão familiar no café capixaba
O Espírito Santo, mais uma vez, fez bonito no principal concurso de cafés especiais do Brasil. O Estado conquistou 11 das 15 primeiras colocações d...
14/11/2025 14h52
Por: Redação Fonte: Secom Espírito Santo

O Espírito Santo, mais uma vez, fez bonito no principal concurso de cafés especiais do Brasil. O Estado conquistou 11 das 15 primeiras colocações do Coffee of The Year (COY) 2025, nas categorias Canéfora e Arábica. Esse resultado expressivo ganha ainda mais brilho com uma história que emociona e simboliza o vigor da cafeicultura capixaba: pai e filha do município de Santa Teresa dividiram o pódio da categoria Canéfora (Conilon/Robusta), com cafés produzidos lado a lado, na mesma propriedade.

Na Semana Internacional do Café (SIC) 2025, realizada neste mês, a campeã Carolinna Bridi Gomes viveu a experiência de receber o prestigiado prêmio ao lado do pai, Luis Carlos da Silva Gomes, que conquistou o terceiro lugar. O feito coroa a tradição da família na produção de cafés de excelência na Fazenda São Bento e marca uma nova etapa na sucessão familiar, que já chega à terceira geração de produtores.

Foto: Reprodução/Secom Espírito Santo
Premiação durante a Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte (MG)Premiação durante a Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte (MG)Reconhecimento de um trabalho em família

Para Carolinna, a conquista é motivo de orgulho coletivo. “Esse resultado representa o reconhecimento de um trabalho de toda a família”, destaca. Na condução da Fazenda São Bento, trabalham: a mãe, Maria Rosalina, que gerencia os custos e as atividades diárias; a irmã,

Camilla, responsável pelo desenvolvimento do negócio e da marca; o pai, Luis Carlos, que lidera a gestão operacional das lavouras; e Carolinna, que conduz a frente de reflorestamento e compartilha com o pai as estratégias voltadas aos cafés especiais, como o pós-colheita, controle e prova de lotes, além da torra.

Luis Carlos reforça o sentimento de realização familiar: “A satisfação é imensurável. Lá no início, quando da decisão de enveredar no caminho dos conilons especiais, fiz por minha conta e risco. O mercado desconhecia o produto, portanto, não sabia onde desembocaria aquele trabalho. Vendo o momento atual dos cafés canéforas, percebemos que tudo aquilo era um sonho realizável. Realizamos, portanto. Estar junto com a minha filha no pódio foi — e está sendo — uma alegria que não cabe.” 

Café de excelência com inovação e cuidado

O segredo do café vencedor está em um processo cuidadoso e experimental. “Investimos num processo de fermentação controlada, que favorece a captura de traços sensoriais diferenciados”, explica Carolinna. Atualmente, a produção anual da fazenda é de cerca de 1.200 sacas, com manejo técnico que une tradição e inovação.

Segundo a produtora, o cuidado começa ainda na formação da lavoura, com escolha criteriosa das variedades, adubação baseada em análises de solo e folhas e colheita no ponto ideal de maturação. O diferencial, no entanto, está na etapa final. “A fermentação desenvolvida na propriedade tem sido fundamental para alcançarmos resultados superiores”, afirma.

A família utiliza diferentes técnicas de pós-colheita, como secagem natural e processos via úmida, com cafés cereja descascados, lavados e fermentados. “Buscamos sempre as melhores práticas de gestão, experimentando diferentes estratégias de pós-colheita. Isso nos ajuda a entender melhor o potencial sensorial de cada lote”, completa Carolinna.

Tradição e sucessão

A relação de Carolinna com a fazenda vem desde a infância. “A Fazenda São Bento faz parte da minha vida desde que eu era criança, quando passávamos boa parte das férias em contato com a natureza e as lavouras conduzidas pelos meus avós”, relembra. Há cerca de dez anos, ela passou a compartilhar a gestão do negócio com a família, contribuindo para uma abordagem mais integrada entre produção, sustentabilidade e inovação.

“Aprendi com meu pai que produzir café de qualidade é um processo longo, que exige dedicação em cada etapa. Já minha principal contribuição foi integrar as lavouras ao reflorestamento, buscando uma produção mais sustentável e resiliente frente às mudanças climáticas”, pontua Carolinna.

Luis Carlos complementa esse olhar sobre o papel da família na transformação do negócio: “Estar junto com minha esposa e minhas filhas Camilla e Carolinna deu a sensação de mais leveza no processo do dia a dia. Elas me deram coragem para sair das margens e atravessar a ponte. A forma de produzir café mudou muito. Você tem que olhar à sua volta e ir além. Elas foram fundamentais para que eu entendesse isso.”

Parceria com o Incaper fortalece qualidade e sustentabilidade

O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) também faz parte dessa trajetória. “O Incaper é um parceiro de sempre, importante na seleção de variedades de alta produtividade e qualidade sensorial. Já realizamos experimentos em conjunto que revelaram o potencial de vários clones, tanto em produtividade quanto no perfil sensorial”, conta Carolinna.

Luis Carlos compartilha da mesma visão e recorda como a instituição foi essencial na sua formação como cafeicultor: “O Incaper teve papel muito importante na minha trajetória. Minha formação acadêmica foi odontologia. Não fosse algumas informações recebidas dos meus sogros, cafeicultores de sempre, até então eu seria um perfeito analfabeto em matéria de café. As informações que obtive com os dias de campo, a participação nos concursos do município realizados pelo Incaper, sempre com cunho didático e palestras, suas publicações e mais tarde as parcerias em campos de pesquisa na propriedade e o convívio com os pesquisadores foram fundamentais para que nós alicerçássemos nossos conhecimentos e chegássemos onde chegamos.”

A Fazenda São Bento também já sediou eventos de capacitação e dias de campo promovidos pela Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) e pelo Incaper, como o lançamento da colheita do café em Santa Teresa. “Esse tipo de apoio técnico e de pesquisa é fundamental. O desenvolvimento de cafés mais produtivos, de maturação homogênea e com maior resistência climática amplia o potencial para produzir com alta qualidade”, ressalta Carolina.

O extensionista do Incaper Cassio Venturini fala sobre o empenho da família na adoção de práticas que elevam a qualidade do café teresense. “Estamos sempre acompanhando com atenção e buscando colaborar com o trabalho de excelência da Fazenda São Bento. Eles participaram de todas as cinco edições do concurso Cafés Especiais de Santa Teresa, que o Incaper realiza em parceria com a Prefeitura Municipal. Inclusive, a Carolina foi a campeã da categoria conilon na edição deste ano”, frisa Venturini.

Carolinna reforça a importância dessas experiências: “Participar desses concursos é muito didático. O nível técnico é alto, e a troca de informações entre produtores é fundamental para o avanço da cafeicultura”, avalia.

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