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Brasil e a Itália convergem em questões mundiais, diz Mattarella
O presidente defendeu uma transição energética concreta, pragmática, sustentável e eficaz. Acrescentou que por muito tempo a questão ambiental e da...
18/07/2024 16h17
Por: Redação Fonte: Agência Brasil

O presidente da Itália, Sergio Mattarella, em palestra no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, disse, nesta quinta-feira (18), que o seu país e o Brasil têm valores semelhantes e defendem posições convergentes em questões mundiais como o estado de direito e a democracia.

“Os fundamentos do diálogo são os valores que pertencem aos nossos dois povos. O amor pela liberdade, o impulso por uma sociedade justa e inclusiva, a proteção oferecida pelo estado de direito e a democracia. O Brasil é um dos maiores protagonistas do panorama das democracias mundiais", afirmou.

"No mundo de hoje, digamos a verdade, a democracia não está com boa saúde. Isso nos interessa e nos preocupa, porque está em jogo o bem do homem. Essas não são palavras minhas. Quem as pronunciou poucos dias atrás, com a eficácia da comunicação que o caracteriza, foi o papa Francisco, o primeiro pontífice da história proveniente da América do Sul”, acrescentou.

Em mais uma etapa da sua agenda em visita ao Brasil, o representante italiano afirmou que o Brasil é um parceiro ideal para a discussão de temas abertos a todos sem posicionamento ideológico ou geopolítico.

Para Mattarella, em 2024, foram confiadas às duas nações responsabilidades especiais. Enquanto o Brasil lidera o G20, a Itália preside o G7.

“São fóruns intergovernamentais que proporcionam oportunidade de diálogo sobre questões fundamentais para nosso planeta, para o desenvolvimento de plataformas que unam.”

Segundo Mattarella, na cúpula do G7 a Itália alargou o diálogo sobre as prioridades, convidando países de todas as regiões do mundo. Nas conversas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta semana, em Brasília, disse que teve oportunidade de apreciar as características e prioridades que o Brasil definiu para sua presidência no G20.

“Colocar ênfase na inclusão social, no combate à pobreza e à fome, no desenvolvimento sustentável, na transição energética, na necessidade de uma tributação justa nas atividades econômicas geradoras de imensos lucros, na reforma da governança global, é prova tangível, se fosse necessário buscaria outras, do alcance global da política externa do Brasil”.

Para Mattarella, o mundo vive um momento que exige diálogo e troca de ideias. "Observo com grande satisfação que existe uma ampla sintonia entre as presidências do G7 e do G20. Um desalinhamento acentuado entre estes dois grupos tão importantes para o debate internacional teria sido um erro imperdoável repleto de consequência”.

“A Itália observa com grande admiração o trabalho iniciado pela presidência brasileira no sentido de alcançar o objetivo de lançar a aliança global contra a fome e a pobreza na cúpula do G20 em novembro. A Itália apoia totalmente essa iniciativa e está pronta a colaborar em todos os níveis”, completou.

Segundo o presidente italiano, a crise climática e os conflitos acentuaram o sofrimento de centenas de milhares de pessoas que estão à beira da fome ou não têm acesso à dieta saudável. Muitas foram obrigadas a fugir de seus países por questão de sobrevivência.

“Primeiro a pandemia, depois a proliferação de conflitos, principalmente na Ucrânia. Tudo isso levou a um número acentuado de pessoas desnutridas, com 120 milhões de pessoas a mais do que tínhamos em 2019. O Brasil, a Itália, a América Latina e a Europa podem colaborar em nível multilateral e podem dar vida também a iniciativas trilaterais com países africanos para construir sistemas alimentares mais sustentáveis e produtivos”, observou.

Transição verde

O presidente defendeu uma transição energética concreta, pragmática, sustentável e eficaz. Acrescentou que por muito tempo a questão ambiental e das mudanças climáticas foi enfrentada de forma inadequada pela comunidade global. “As consequências são sempre terríveis, como pude constatar com grande tristeza ao visitar o Rio Grande do Sul. Se quisermos deixar às gerações futuras um planeta em que as gerações futuras possam viver e prosperar em paz, todos temos que fazer um progresso decisivo e conjunto”.

Migração

O chefe de Estado italiano agradeceu a amizade e a cordialidade com que tem sido recebido no país, incluindo a filha e a delegação que o acompanha. Ele acrescentou que a sua vinda ocorre 24 anos após a última visita de um presidente italiano ao Brasil.

“Vinte e quatro anos após a visita do presidente Ciampi [Carlo Azeglio], eu queria fazer uma viagem que me permitisse vivenciar diferentes aspectos da realidade deste país, ir a Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Porto Alegre. Esta última dramaticamente afetada pelas enchentes das últimas semanas, é um privilégio que me permite apreciar a multifacetada e rica variedade do Brasil. Cada etapa expressa um perfil diferente da identidade profunda deste país de dimensões continentais. Um país gigante por sua própria natureza, como diz o hino nacional brasileiro”, comentou.

Mattarella classificou as relações de amizade entre os dois países como um patrimônio comum alimentado pelos mais de 800 mil italianos que vivem aqui e da maior comunidade do mundo de ítalo-descendentes, pessoas que desempenharam um papel ativo na construção do Brasil de hoje, do seu desenvolvimento e da sua prosperidade.

“Agradecemos ao parlamento brasileiro por ter estabelecido a data de 21 de fevereiro como o dia do migrante italiano. Tudo isso em memória do desembarque em Vitória em 1874 de uma centena de italianos que deixaram Genova a bordo do vapor La Sofia. Trouxeram poucos vens mas foram movidos pela aspiração de querer participar do desafio de moldar um país. Pessoas dispostas a se integrarem e com a determinação de alcançar com seu próprio trabalho uma vida melhor. Essa terra generosa ofereceu-lhes hospitalidade e oportunidades e por isso tem a gratidão da Itália”, relatou.

Para o chefe de Estado italiano, o aniversário em 2024 dos 150 anos de migração para o Brasil representa um momento significativo na relação entre os dois países e leva a refletir sobre a indivisibilidade dos destinos humanos. Na visão dele, este aspecto deve ser valorizado juntamente a outras nações europeias perante o desafio do acolhimento que o atual fenômeno migratório coloca a essas sociedades.

Discurso denso

De acordo com o embaixador e conselheiro emérito do Cebri, Rubens Ricupero, que participou do encontro, o presidente italiano fez um discurso muito denso em que examinou a conjuntura internacional atual com as grandes ameaças, além de mostrar que há vários pontos em comum com maneira do Brasil ver a relação internacional.

“As posições que ele expôs são muito coincidentes com a diplomacia brasileira. Houve uma convergência muito grande”, disse, lembrando que é fruto da imigração italiana destacada por Mattarella na palestra.

Para o embaixador e conselheiro emérito do Cebri, Marcos Azambuja, as convergências entre o Brasil e a Itália são tão óbvias que é preciso apenas os dois países continuarem no caminho que seguem. Azambuja defendeu o que chamou de uma diplomacia de proximidade com mais contatos pessoais entre os líderes mundiais. “O afeto vem do convívio. Nós temos que nos ver mais. Ele agora vai levar do Brasil para a Itália imagens que não teria se não fosse a presença física aqui. Diplomacia é feita de proximidade. Tem de encontrar o outro. Tocar o outro e estabelecer uma relação de fraternidade.”

O embaixador concordou com a referência do presidente italiano sobre a linha definida pela liderança do Brasil no G20. “Ele elogiou porque é uma visão construtiva. O Brasil não quer nenhuma coisa que crie rupturas. O mundo já está com dois conflitos sérios na Ucrânia e em Gaza. O Brasil quer fortalecer a paz. O Brasil não é sócio da guerra. O Brasil não ganha com a guerra. Ganha com o comércio e investimento no turismo. O Brasil é um país comprometido dom a paz”, disse à Agência Brasil , após o encontro.