Apesar de dimensões territoriais modestas, Sergipe acumula tradições e riquezas culturais que se perpetuam por gerações e refletem a grandiosidade do estado que tornou-se ‘país do forró’ e palco do maior São João à beira-mar do Brasil. Exemplo disso é o tradicional Concurso de Quadrilhas Juninas Arranca Unha que chegou à grande final nesta segunda-feira, 23, véspera do feriado de São João. Realizado no Centro de Criatividade, em Aracaju, há quase quatro décadas, o evento reúne quadrilheiros de diversos municípios sergipanos em celebração à história e à cultura popular.
Vinte e quatro quadrilhas passaram pelas etapas classificatórias do concurso ao longo da última semana, mas somente seis chegaram à disputa do título de campeã do Arranca Unha. Sendo elas, Meu Sertão, Xodó da Vila, Século XX, Unidos em Asa Branca, Raio da Silibrina e Pioneiros da Roça. Com riqueza de cores, sons e histórias, as apresentações encantaram o público que encheu as arquibancadas do Centro de Criatividade.
O espaço, calor humano e animação da noite foi o que mais chamou a atenção de Josuel Félix. Natural do município de Tobias Barreto, o sergipano reside em Aracaju há algum tempo e aproveitou a oportunidade para conhecer a tradição.
“Como professor de Letras, aprendi na universidade que, apreciar as culturas, principalmente culturas locais, enriquece a nossa tradição, faz com que eu me sinta mais vivo naquilo que eu aprendi desde criança. Esse festejo junino, essa tradição tão rica que a gente tem no nordeste, vem de lá do berço. Estar aqui, hoje, apreciando essa cultura, me faz sentir vivo”, afirmou.
A programação também foi destino da sergipana Tathiana Santos que pôde assistir, pela primeira vez, a um concurso de quadrilhas juninas. À procura de uma agenda cultural mais tranquila, ela chegou ao espaço por recomendação de uma amiga. “Eu estava em casa a fim de fazer alguma coisa junina, diferente da folia grande. Eu queria ver quadrilha, comer mungunzá. Aí me lembrei de uma amiga que sabe toda a programação da cidade. E aí eu falei: ‘onde acho uma coisa legal assim?’. Aí ela: ‘Vá pro Centro de Criatividade’. Ótima odeia”, contou.
Outras agendas juninas promovidas pelo Governo do Estado podem ser encontradas em diferentes localidades da capital sergipana. A exemplo da Vila do Forró e do Arraiá do Povo, na Orla da Atalaia. Para Tathiana, essa descentralização dos festejos é uma iniciativa importante.
“Isso é extraordinário, porque acaba atendendo a vários públicos. Aqui, realmente, são essas pessoas que querem assistir sentadinho, ver o espetáculo, beber da cultura, porque as quadrilhas contam histórias. Então, acho que diversificar é o caminho. Todo mundo vai aproveitar o São João do seu jeito”, acrescentou.
Dadisputaaotítulo
A grande campeã do Arranca Unha 2025 foi a quadrilha Unidos em Asa Branca. O grupo leva o prêmio de R$ 35 mil em razão dos 50 pontos acumulados. Com uma história inspirada na obra da escritora cearense Socorro Acioli, o grupo quadrilheiro trouxe a temática ‘1 Promessa para ½ Santo’. Cada detalhe presente durante a apresentação tem o seu significado, assim como o colorido dos trajes que levaram alegria para o público. “Cada fitinha, cada cor, realmente tem um contexto, um significado para transmitir e tocar nas pessoas”, contou o integrante Heber Reis.
Para ele, a valorização da cultura é fundamental, especialmente para grupos menores. “Isso faz com que a cultura não morra e se desenvolva cada vez mais”, frisou.
Com o diferencial de um décimo e prêmio de R$ 20 mil, o segundo lugar ficou com o grupo Pioneiros da Roça. Os preparativos da apresentação começaram cerca de seis meses antes do período junino. O grupo trouxe o tema ‘Divina’, uma história que conta sobre a padroeira sergipana Nossa Senhora Divina Pastora e é carregada de referências locais, a exemplo da renda irlandesa, artesanato que tem no seu modo de fazer o reconhecimento enquanto Patrimônio Cultural do Brasil e Imaterial de Sergipe.
“A gente traz isso pra dentro dos arraiais como uma forma de reafirmar a nossa sergipanidade, a nossa identidade, e propagar uma mensagem de paz, de esperança, de fé, de que o São João também é uma festa de fé”, contou o quadrilheiro Jad Rocha que, na apresentação, atua como Frei Antônio.
O integrante do grupo Pioneiros da Roça celebra as conquistas e investimentos que chegam às quadrilhas juninas sergipanas. “Iniciativa muito louvável do Governo do Estado, que tem incentivado de uma maneira muito generosa o universo das quadrilhas juninas de Sergipe. Isso é muito importante, porque acaba fazendo a manutenção da nossa cultura e valorizando cada vez mais as nossas manifestações culturais”, ressaltou Jad.
O terceiro lugar, por sua vez, foi ocupado pelo grupo Século XX que alcançou 49.7 pontos e levou o prêmio de 15 mil reais. De Aracaju, o grupo trouxe o tema ‘Brado - Sertão de fé e devoção’, que conta a história de um jovem casal de retirantes que vivenciam a seca do sertão e partem em busca de uma vida melhor. Tons terrosos e claros refletiam, nos figurinos, a história vivenciada pelos personagens, como os momentos de sofrimento, devoção e felicidade.
Segundo o quadrilheiro responsável pelo marketing do grupo, Lawrence Bonfim, os projetos foram iniciados ainda em dezembro do ano passado, com meses de ensaio e diversos preparativos que culminaram no sucesso final. “É muito importante valorizar a cultura que o nosso estado tem e a gente sabe que quadrilheiro gasta muito. Então, esse apoio que o Governo dá é muito importante, porque a gente assim reconhece a valorização que o governo está tendo com as quadrilhas e o retorno que a gente está tendo, como premiação”, disse.
Logo em seguida, por um critério de originalidade, a Xodó da Vila ocupou a quarta posição com 49.6 pontos. Na quinta posição, com o mesmo quantitativo de pontos, o grupo Raio da Silibrina. Já a sexta posição foi ocupada pela quadrilha Meu Sertão 173 acumulou 49.1 pontos. O quarto, quinto e sexto lugar levam um prêmio de 10 mil reais cada.
Tradiçãofortalecida
Integrando o calendário junino estadual, o concurso de quadrilhas Arranca Unha é realizado na concha acústica do Centro de Criatividade desde 1986. Como incentivo às tradições populares do ‘país do forró’, o Governo de Sergipe concedeu, neste ano, uma ajuda de custo de R$ 10 mil a cada quadrilha selecionada via edital lançado por intermédio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap). Já as primeiras colocadas receberão prêmios que variam entre R$ 10 mil e R$ 35 mil.
As celebrações da dança junina seguem ao longo de todo o mês de junho. Amanhã, 24, quadrilhas sergipanas se preparam para a estreia de mais um concurso. Desta vez, no Complexo Cultural Gonzagão, recentemente revitalizado, com melhorias estruturais e de acessibilidade.
O incentivo às tradições continua com a disputa final pelo título de ‘Quadrilha Junina do País do Forró’, que ocorrerá em julho. Nela, as campeãs do ‘Arranca Unha’ e do Gonzagão se enfrentarão no Barracão da Sergipe, na Vila do Forró. O grupo vencedor receberá um prêmio adicional de R$ 50 mil, um reconhecimento ao talento e à rica tradição sergipana.
“É um investimento que nunca houve antes nas quadrilhas juninas do estado. Totalizando, entre premiação, inscrição e Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), um investimento de R$ 2 milhões no ano. E o Gonzagão, agora com a nova proposta de voltar às suas origens como Complexo Cultural, não mais como uma casa de show, vai voltar a ter suas oficinas, seus teatros, feirinhas gastronômicas e de artesanato”, informou Gustavo Paixão, presidente da Funcap.
PaísdoForró
O Arraiá do Povo e a Vila do Forró são uma realização do Governo de Sergipe, por meio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap) e do Banese, em parceria com o Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O projeto conta com o apoio da Energisa, Aperipê TV, Netiz, TV Atalaia, Prefeitura de Aracaju, FM Sergipe e TV Sergipe; e com o patrocínio da Eneva, Iguá Saneamento, Maratá, GBarbosa, Sergas, Deso, Pisolar, Celi Engenharia, Rede Primavera Saúde, SEGV e Indra.
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