Aos 32 anos, Maria Vanusa Trindade Martins, moradora de Varjota, a cerca de 69 km de Sobral, jamais imaginou que uma simples dor de cabeça poderia ser o início de uma grande reviravolta em sua vida. Há uma semana, enquanto estava em casa, passou a sentir um incômodo persistente e, mesmo tomando remédios, não teve melhora. “Minha mãe achou estranho, pois minha boca estava ficando torta. Viemos direto pra emergência”, conta.
Ao chegar ao Hospital Regional Norte (HRN), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Maria já apresentava dormência no rosto e, rapidamente, perdeu os movimentos do lado esquerdo do corpo. Diagnosticada com Acidente Vascular Cerebral (AVC), ela foi imediatamente internada na Unidade de AVC Agudo da instituição. A notícia assustou Maria Vanusa, que atualmente trabalha como faxineira. “Quando vi que não conseguia mais mexer meu corpo, fiquei desesperada. Achei que não iria mais voltar ao normal”, relata, emocionada.
No HRN, o atendimento a pacientes com AVC é feito com agilidade e por uma equipe multiprofissional. Assim que foi admitida, Maria passou por exames e iniciou o tratamento clínico. Em seguida, foi transferida para a Unidade de AVC Subagudo, onde deu início à fisioterapia. Em menos de quatro dias de sessões, os primeiros resultados apareceram.
“No início era bem difícil fazer os exercícios no estado que eu me encontrava. Achei que nunca iria conseguir, mas com a persistência da equipe e força de vontade, estou conseguindo recuperar os movimentos da perna e do braço”, diz a paciente. Ela destaca, ainda, o acolhimento da equipe de fisioterapia: “Foram muito atenciosos comigo desde o começo. Isso fez toda diferença”.
O coordenador do serviço de fisioterapia do HRN, Jean Agostinho, explica que a intervenção começa ainda nas primeiras horas após a internação. “Desde as primeiras horas de internação, o fisioterapeuta atua na avaliação neurológica e funcional, identificando déficits motores, respiratórios e posturais”, afirma.
Além disso, ele destaca que o objetivo principal é prevenir complicações secundárias — como tromboses, contraturas e pneumonias — e promover a reorganização neurológica e funcional. “A intervenção precoce e contínua permite ganhos significativos na independência e qualidade de vida dos pacientes”, completa.
Para reabilitar os pacientes ainda durante a internação, o HRN conta com um Centro de Fisioterapia na unidade de AVC. O local dispõe de diversos equipamentos para fortalecimento muscular, treino de marcha e estimulação sensorial, além de aparelhos de eletroestimulação, entre outros importantes para a recuperação.
O serviço segue protocolos clínicos e diretrizes atualizadas da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares e da Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional. Cada paciente é avaliado de forma individualizada, com plano terapêutico e metas progressivas. “Ao longo da internação, o progresso funcional é monitorado por escalas de força e mobilidade validadas. Na alta, é elaborado um plano de continuidade do cuidado, incluindo encaminhamento para reabilitação ambulatorial, quando necessário”, pontua Jean.
De janeiro a junho de 2025, foram realizados 6.390 atendimentos fisioterapêuticos na Unidade de AVC, com média de 36 por dia. Cada paciente internado realiza, em média, 15 sessões de fisioterapia. Os resultados são expressivos: 90% dos pacientes atendidos na unidade e submetidos à reabilitação ainda no leito apresentam recuperação parcial ou total da funcionalidade motora.
O coordenador também ressalta que a fisioterapia no hospital vai além do cuidado técnico. “Enfrentar as limitações impostas por um AVC é muito desafiador emocionalmente. Por isso, o trabalho exige sensibilidade, escuta ativa e atuação em conjunto com toda a equipe multidisciplinar”, afirma.
Além de restaurar movimentos, a reabilitação precoce prepara o paciente para retomar a vida com mais autonomia e segurança, contribuindo para a diminuição do tempo de internação e reinternações. “A fisioterapia precoce é uma estratégia eficaz, baseada em evidências, que salva funções, restaura vidas e humaniza o cuidado”, conclui.
Maria Vanusa, por exemplo, segue em recuperação, mas já consegue caminhar sozinha e está confiante no futuro. “Agradeço a Deus e à equipe do hospital. Eu achei que ia ficar sem andar, sem trabalhar. Mas estou voltando, um passo de cada vez.”
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