Constantemente, dados sobre os fluxos migratórios de pessoas do estado do Acre para outras regiões do Brasil são divulgados e, consequentemente, apresentados à população como se fossem informações concretas. No entanto, dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicados no dia 27 de junho, a partir do estudo da amostra do Censo de 2022, permitem uma análise mais precisa dos deslocamentos populacionais.
O Acre abriga atualmente uma população estimada em 880.631 pessoas (dados até 2024). Os índices mostram que a maioria dos acreanos que residem fora do estado está concentrada em municípios próximos à divisa com o Amazonas. A capital com o maior percentual de pessoas nascidas no Acre não está nos estados do Sul ou Sudeste, como costuma ser imaginado, mas sim em Rondônia: Porto Velho possui 4,8% de sua população formada por acreanos, o que se explica pela proximidade geográfica entre os estados.
Outro dado importante indica que Rio Branco tem mais de 10% de seus habitantes oriundos de outras regiões do país. Ou seja, ainda que alguns acreanos se desloquem para outros estados, há também um movimento inverso: pessoas de outras localidades vêm ao Acre em busca de oportunidades de trabalho, estudo e qualidade de vida.
Segundo o IBGE, mais de 90% das pessoas nascidas no Acre permanecem no estado ao longo da vida. Os dados gráficos indicam, em tons de laranja e amarelo, a predominância de nascidos que nunca saíram dos limites estaduais.
Além disso, fatores como a redução do desemprego e a recente exclusão de 5,6 mil famílias do Programa Bolsa Família por aumento de renda, em julho, reforça uma tendência positiva. Essas famílias deixaram de receber o benefício por terem conquistado estabilidade financeira, seja por meio de emprego formal ou iniciativas empreendedoras.
O chefe das divisões de Apoio a Migrantes e Refugiados, Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Erradicação do Trabalho Escravo da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), Lucas Guimarães, afirma que a saída de acreanos para outros estados costuma gerar uma percepção equivocada de grande êxodo.
“No entanto, essa impressão pode ser comparada à de um evento raro, mas de grande impacto. Assim como a queda de um raio — incomum, mas que quando ocorre chama atenção. A migração, apesar de ser uma realidade, não representa necessariamente um fluxo massivo e unidirecional”, disse.
O gestor ressalta que as migrações fazem parte da dinâmica natural do estado, impulsionadas por múltiplas razões. Muitos acreanos migram por oportunidades educacionais, aposentadoria, tratamentos médicos ou questões pessoais.
“Contudo, é crucial expandir a narrativa. Se muito se fala dos que partem, pouco se destaca o outro lado da moeda: o Acre como um novo lar para migrantes. Estudantes vêm para as universidades, profissionais são atraídos por oportunidades de trabalho ou aprovação em concursos públicos. O estado também é ponto de chegada para um fluxo migratório internacional significativo em suas fronteiras. Muitos desses recém-chegados, embora inicialmente de passagem, acabam criando raízes e contribuindo para a diversidade cultural e econômica do estado”, declarou.
Um dos mitos populares reforça a ideia de que a maioria dos acreanos migra para Santa Catarina. No entanto, o levantamento do IBGE mostra que os principais estados que contribuíram com fluxos migratórios para Santa Catarina foram Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Da região Norte, os maiores percentuais de migração para aquele estado são oriundos de Rondônia, Amazonas e Pará. O Acre não aparece entre os principais estados de origem.
Quando os dados são confrontados, percebe-se que cidades como Blumenau, Balneário Camboriú e Florianópolis, ou outros municípios de Santa Catarina, não têm percentual de população representativa do Acre, contrariando o senso comum.
Outro destino divulgado como um dos mais procurados por acreanos entre a população é a capital da Paraíba, João Pessoa, mas segundo as estatísticas brasileiras apenas 0,2% da população de João Pessoa é formada por acreanos.
O advogado Amilson Albuquerque Limeira Filho, natural da Paraíba e atualmente residente no Acre, destaca que sua mudança se deu por motivos profissionais. Ele atua como assessor jurídico da Secretaria Municipal de Habitação e Urbanismo (Sehurb) e é professor substituto no Instituto Federal do Acre (Ifac).
“Essa formação interdisciplinar foi muito bem recebida, tanto na esfera pública quanto na perspectiva do mercado privado. As portas estão abertas para mim, e isso é promissor, pois demonstra que o estado valoriza a competência.”
Segundo Amilson, o Acre possui grande potencial de desenvolvimento. “O estado do Acre é rico em recursos naturais e possui uma sociobiodiversidade que favorece sua atuação no mercado interno, regional e até internacional”, afirmou.
Ele também valoriza a cultura local. “Tenho acesso a um vasto patrimônio gastronômico, a uma literatura extremamente rica e a percepções políticas diferenciadas, reforçadas por toda essa riqueza sociocultural. Já me sinto acreano e pretendo fixar minha residência aqui.”
O levantamento do IBGE mostra que a migração de acreanos para outras regiões do país está mais ligada a vínculos familiares e proximidade geográfica do que à busca por trabalho. Ou seja, não há um fluxo relevante de pessoas deixando o Acre por falta de oportunidades.
Atualmente, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e os do Nordeste não concentram números relevantes de acreanos que se mudam para essas regiões.
Os números desconstroem a narrativa de que acreanos estariam deixando o estado em massa por falta de oportunidades. Estudos da Unicamp mostram que, em parte do período de gestões anteriores, o número de emigrações no Acre chegou a quase 30 mil pessoas. A realidade atual é distinta.
Entre 2020 e 2025, a taxa de desemprego no Acre apresentou queda contínua. O ano de 2023 registrou a menor taxa da série histórica: 4,9%. Em 2024, o estado encerrou o ano com índice de 6,4% e, em 2025, manteve-se estável no primeiro trimestre, com saldo positivo na geração de empregos no mês de março.
Evolução do desemprego no Acre (2020–2025):
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