Uma estrutura formada por paredes de terra batida sustentadas por madeira e um teto de palha. Para contrastar todo o marrom, as janelas em azul dão cor à Casa de Taipa, uma forma tradicional de construção que se popularizou no Nordeste, principalmente pelo seu baixo custo e facilidade. Recriada como um espaço imersivo e fotográfico para a Vila do Forró 2025, sergipanos e turistas fizeram desta segunda-feira, 23, véspera de São João, um dia para se conectar com as raízes a partir de um símbolo que atravessa gerações de nordestinos.
Não é só a parte externa que retoma tantas recordações. Ao entrar na casa, pisando em um chão de tábua de madeira, os visitantes encontraram outros elementos que refazem o interior de tantos lares populares de Sergipe e dos outros oito estados. Um fogão a lenha, peneiras e cestos de palha, cuscuzeiro, panelas de alumínio, além do tradicional coador de pano, compõem o espaço da cozinha. Junto a uma mesa de madeira pintada de azul, do mesmo tom da janela, que está posta e farta com milho cozinho, ovos e um prato mais que tradicional da culinária nordestina: o cuscuz.
Candeeiros, lampião, ferro de passar roupas à brasa, máquina de costura, moringa de barro, espelho de bordas laranjas. São mais dos elementos que não só decoram a Casa de Taipa, mas resgatam toda a memória presente nela. Sobre a cama de madeira forrada com lençol de chita, um mosquiteiro. Em frente a ela, um urinol de alumínio. Junto disso, um armário de madeira traz roupas xadrez, sandália e chapéu de couro, reconstruindo um quarto que se parece ao da lembrança de tantos nordestinos.
De um outro lado da casa, um altar retoma toda fé e espiritualidade tradicional das cidades do interior do Nordeste. Imagens de santos, esculturas de Nossa Senhora Aparecida e São Jorge, Bíblia, velas e terço revivem a devoção católica que explica, inclusive, todo o envolvimento e apreço pelos festejos juninos de Santo Antônio, São João e São Pedro. Sobre uma esteira, uma cadeira de balanço que tem ao seu lado um rádio de madeira. As peças recriam um cenário que para tantas crianças nordestinas é inesquecível pois traz à tona a recordação dos pais ou avós sentados ouvindo músicas, missas ou jogos de futebol.
Memórias populares
Diante de uma experiência viva e tão rica quanto a da Casa de Taipa, a sergipana Margarete Silva não conteve as emoções com as recordações que vieram. “É muito emocionante. Todas as vezes que eu vejo uma casa de taipa eu lembro da minha infância. Lembro de meu avô, lembro de minha avó, lembro muito da minha mãe. Recordo da minha infância com muita emoção e lembro assim, de onde eu vim e onde eu estou hoje. São muitas memórias”, relembra ela.
Para a também sergipana Márcia Cristina Meneses, o sentimento não foi diferente. Ela veio acompanhada do filho para celebrar a véspera de São João na Vila do Forró e contou sobre as lembranças da infância em Maruim, interior de Sergipe. “Eu morei em uma casa desse jeitinho. Tudo aqui representa muito o lar em que eu cresci. Conhecer esse espaço me trouxe uma recordação enorme do tempo em que morei em uma casa de taipa. Está muito bonito e foi muito interessante poder relembrar essas vivências”, comenta.
Assim como as sergipanas, a baiana de Feira de Santana Eliane Andrade teve na visita à Casa de Taipa da Vila do Forró um momento de reencontro com as lembranças do passado. Ela veio em família curtir o São João em Aracaju e não resistiu a visita ao espaço. “Para mim, é muito especial. Eu sempre tive vontade de trazer as minhas filhas para conhecer e, quando eu passei, não perdi a oportunidade de apresentar a casa de taipa. Quando entrei aqui, fiquei muito emocionada. Eu lembrei do fogão a lenha que tinha na casa da minha mãe, o jogo de mantimentos de alumínio, a máquina de costura é da mesma, até a marca, da que ela tinha”, relata.
Legado nordestino
Além das memórias de quem já viveu épocas de vida em uma casa de taipa, muitas famílias aproveitaram o espaço para apresentar esse símbolo aos seus filhos pequenos, como forma de valorizar e reconhecer nossas raízes históricas e culturais. Foi o caso da baiana de Salvador Marina Lima, que sempre passa o mês de junho no ‘país do forró’. “É sempre importante fazer o resgate das origens para que a gente vá criando na criança uma consciência social e cultural desde muito cedo. É muito marcante estar aqui, pois eu vim grávida, meu filho com meses e, agora, ele já vai fazer dois anos e estamos aqui de novo”, ressalta.
Os sergipanos Natalie Vieira e Pedro Gustavo também reconheceram a importância de estimular o contato com a cultura nordestina desde cedo. Eles trouxeram o pequeno João para conhecer a Casa de Taipa e os outros espaços e atrações da Vila do Forró. “Achamos muito bom porque são coisas da nossa infância, pelo menos para quem veio do interior, coisas muito típicas da gente, daqui da região. Então é muito importante mostrar para ele para que a cultura não se perca, para que ele já de pequenininho veja como é que e, quem sabe, guardar na lembrança”, expressa.
País do Forro
O Arraiá do Povo e a Vila do Forró são uma realização do Governo de Sergipe, por meio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap) e do Banese, em parceria com o Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O projeto conta com o apoio da Energisa, Aperipê TV, Netiz, TV Atalaia, Prefeitura de Aracaju, FM Sergipe e TV Sergipe; e com o patrocínio da Eneva, Iguá Saneamento, Maratá, GBarbosa, Sergas, Deso, Pisolar, Celi Engenharia, Rede Primavera Saúde, SEGV e Indra.
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