A sub-representação das mulheres na política foi tema de palestra da pesquisadora de gênero, Giovana Perlin, na manhã desta terça-feira (3) no plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal, com a presença de estudantes da Universidade do Distrito Federal (UnDF) e do Centro Universitário do Planalto Central (Uniceplac).
A palestra faz parte da programação da 5ª Semana Legislativa pela Mulher, evento coordenado pela Escola do Legislativo do Distrito Federal (Elegis), que acontece entre os dias 3 e 5 deste mês, com o objetivo de promover ações para fortalecer a representação social e política da mulher, bem como a equidade entre homens e mulheres.
Segundo Perlin, que é docente no mestrado em Poder Legislativo do Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados e pesquisadora da área de gênero há trinta anos, os estudos ultrapassaram a abordagem meramente numérica e buscam a sub-representação política qualitativa ou substantiva.
“Aumentou o número de mulheres nos parlamentos, mas qual o poder que essa mulher tem dentro do parlamento e como ela se insere no processo de tomada de decisão?”. Esta é uma das questões que norteiam as pesquisas atuais, que investigam as barreiras enfrentadas pelas mulheres na carreira política e seus impactos na tomada de poder, esclareceu Perlin, que é doutora e mestra em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em Ciência Política.
Dentre os 185 países pesquisados e classificados pela união interparlamentar, o Brasil ocupa a posição 135 com relação à presença de mulheres no Legislativo, informou. Entre outros dados, ela revelou que nas assembleias legislativas há 18% de cadeiras ocupadas por mulheres; nas câmaras de vereadores, 16% de ocupação, e 7% no governo dos estados. Por outro lado, as mulheres correspondem a 46% dos filiados partidários, o que demonstra o interesse das mulheres por política. “Por que não há um número paritário ou aproximado em relação aos homens?”, provocou. Além da sub-representação, as mulheres ainda são coadjuvantes nas relações de poder, considerou.
Barreiras
Entre as barreiras para acessar a arena política, a pesquisadora apontou que as mulheres, geralmente, não possuem financiamento de campanha, tempo para exercer a política e uma rede influente de contatos.
Já na atuação política, as barreiras de gênero implicam fatores como as limitações temáticas, fruto de um legado histórico, que delegou às mulheres os trabalhos de cuidado. Por isso, as mulheres tendem a atuar mais nas políticas de desvelo ou políticas sociais e menos em áreas de estruturação do Estado e orçamento. Outro aspecto é o tempo para participar da política, uma vez que a mulher ainda é considerada a principal cuidadora dos filhos e responsável pela casa. Também a insegurança social quanto à qualificação é outra barreira, “como se as mulheres não fossem qualificadas o suficiente para ocupar determinados espaços”, observou.
De acordo com a pesquisadora, essas barreiras estão ligadas à “violência política de gênero”. Esta violência envolve, por exemplo, ações de assediar, constranger, perseguir candidatas, tipificadas, inclusive, como crime nos códigos eleitoral, penal e na Lei 14.192/2021 , que estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher.
Em contraponto, Perlin defendeu agendas institucionais. “As mulheres precisam se organizar para institucionalizar pastas e construir um capital político para negociação a fim de romper com o papel de coadjuvante na tomada de decisões”, assinalou. Ela acrescentou que o Observatório Nacional de Mulher na Política ( ONMP ) abriga sugestões e considerações acerca da temática.
A diretora da Elegis, Jane Marrocos, avaliou que os estudantes universitários presentes no plenário tiveram a oportunidade de assistir a uma abordagem profunda sobre o tema, que dá continuidade aos debates de ontem (2) e permeiam a programação da Semana.
Oficinas
Em continuidade à programação , hoje pela manhã acontecem três oficinas. “Direitos Humanos e Violência Contra a Mulher: relato como estratégia de enfrentamento”, com a instrutora Gabriela Tunes; “Fomentar Relacionamentos com Respeito às Diferenças: comunicação não violenta na prática”, com a psicóloga Ana Maria Vilanova, e “Estratégias de Enfrentamento das Violências contra a Mulher”, com o instrutor Thiago Bazi.
Ainda hoje, de 14 às 16h, “Mulheres que inspiram” será o tema das palestrantes Fernanda Paulini, Gerusa Medeiros, Márcia Witczak, Michella Martins, Renata Jambeiro e Samara Felipe. Todos os eventos são transmitidos ao vivo pela TV Distrital (canal 9.3) e YouTube .
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Franci Moraes - Agência CLDF
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