A Fundação Cultural do Pará (FCP), por meio do Núcleo de Oficinas Curro Velho, já deu início aos preparativos para o desfile das Crias do Curro Velho, um dos blocos mais tradicionais do carnaval de rua de Belém, com mais de 30 anos de existência. Os trabalhos nos barracões já começaram, com a montagem dos carros alegóricos e a confecção das fantasias, tudo feito de maneira artesanal. Como sempre, crianças e jovens têm um papel central na construção de todos os elementos do desfile, dos adereços às alegorias e à enérgica bateria, que este ano reunirá mais de 130 integrantes.
O desfile será realizado no dia 8 de março, domingo, a partir das 9h da manhã, com saída da Praça Brasil, no bairro do Umarizal, e chegada no Curro Velho. As oficinas, iniciadas em 8 de fevereiro, seguem até o desfile e oferecem atividades voltadas para diferentes alas.
Há turmas específicas para crianças a partir de 6 anos, como a oficina da Ala Infantil, e para jovens a partir de 12 anos, que participam da oficina de passistas e da ala circense. Além disso, há cursos voltados para a bateria, confecção de adereços e alegorias, e até mesmo uma oficina para mães e responsáveis, que formarão a comissão de frente.
Edna Souza, da Secretaria do Curro Velho, explica que as inscrições seguem abertas durante a semana e aos finais de semana para crianças a partir de seis anos e também para a ala das mães. “As oficinas estão a todo vapor, principalmente nos finais de semana. Temos aulas de ritmistas, mestre-sala e porta-bandeira, comissão de frente, além da ala da juventude e da inclusão, que recebe crianças de vários pontos da cidade”, explica.
Apesar dos desafios, o trabalho segue com criatividade e reaproveitamento de materiais, em sintonia com o tema deste ano, que celebra a Amazônia e a COP 30. Luizinho Santiago, um dos responsáveis pelo barracão, explica que os preparativos para o desfile de 2025 já estão em andamento. “Nesse primeiro momento, estamos organizando o espaço e preparando as estruturas dos carros alegóricos. Serão dois carros e cinco tripés, que vão homenagear figuras importantes do nosso carnaval, como David Matos, ex-carnavalesco do Curro Velho, falecido em 2024”, conta.
Além dos carros, o evento contará com alas formadas por crianças e jovens, incluindo baianas, passistas e a ala da inclusão. “Os ensaios acontecem aos sábados à tarde e domingos de manhã, enquanto os preparativos de adereços seguem ao longo da semana”, acrescenta. As inscrições continuam abertas para quem deseja participar das oficinas e desfilar.
Carlos Sampaio, coordenador do barracão, explica que as oficinas permitem que as crianças e jovens se apropriem do processo de construção do carnaval. “Aqui no barracão é como uma escola para elas. A gente ensina, elas aprendem, e é assim que a magia do carnaval se faz. Elas ficam empolgadas e já começam a sonhar com as fantasias que vão usar”.
Entre as novidades do desfile deste ano, estão os carros alegóricos que contarão histórias da cultura amazônica. Um dos destaques será um carro que representa a Cobra Grande, personagem mitológica do imaginário popular paraense. “Esse carro vai contar a história da Cobra que começa na Igreja da Sé, passa pelo Theatro da Paz e termina na Basílica, simbolizando essa serpente que percorre a cidade”, detalha Sampaio.
O bloco contará com uma bateria formada por mais de 130 integrantes, a maioria deles participantes das oficinas de percussão. Hudson Lopes, 17 anos, diretor da bateria das Crias do Curro Velho, começou na percussão ainda criança e hoje ajuda a coordenar os ensaios. “Comecei aqui com meus primos e irmãos quando tinha uns 6 ou 7 anos. Foi assim que fui aprendendo e me apaixonando pelo carnaval. Hoje, poder ensinar e tocar com essa nova geração é muito especial.”
Power Martins, instrutor da bateria, destaca a importância do Curro Velho na formação de novos talentos e na preservação da identidade cultural amazônica. “Esse ano, com o tema ‘Belém, capital da COP 30 na Amazônia: mistérios, encantos e tradições’, queremos mostrar a grandiosidade da nossa cultura. A bateria vai levar essa energia para a avenida.”
No barracão das fantasias, a costureira Rosinete Ribeiro dedica-se há 24 anos à confecção dos figurinos para o desfile. Junto com sua equipe, cuida de cada detalhe das fantasias, desde os passistas até a bateria, incluindo as mães que este ano formam a comissão de frente. “Só na bateria, são 130 crianças. Nas alas, de 25 a 30 por grupo. No total, mais de 360 fantasias”, conta. O trabalho é intenso, mas a recompensa vem na avenida. É gratificante demais ver as crianças felizes, brincando. Todo ano estamos aqui porque vale à pena.”
Responsável pelos figurinos de porta-bandeiras, mestres-sala e porta-estandartes, o figurinista Bach acompanha de perto a emoção das crianças no carnaval. “Quando chega perto do desfile, elas enlouquecem, vêm aqui querendo uma roupinha. A gente sempre dá um jeitinho de atender”, conta. Trabalhando com reaproveitamento de fantasias de anos anteriores, ele adapta os modelos conforme o material disponível, sempre buscando inovação.
Com mais de três décadas de experiência, Bach começou no teatro e, desde 1990, integra a equipe do Curro Velho. “É gratificante demais ver as crianças desfilando. Já vi gerações crescerem, e hoje muitas delas são oficineiras e instrutoras. Algumas já trazem os filhos e netos para participar. Isso é bonito de ver.”
Já a cenógrafa e aderecista Márcia Almeida enfrenta os desafios com criatividade e reaproveitamento de materiais. “Esse ano, estamos fazendo tudo na reciclagem, mas sempre vamos fazer um carnaval bonito para essas crianças, porque isso faz parte da vida delas, principalmente do pessoal da Vila da Barca”, explica. Coordenando a oficina de adereços, Márcia trabalha ao lado de uma pequena equipe fixa, mas o espaço está sempre aberto para voluntários.
Ex-cria do Curro Velho, começou a frequentar as oficinas ainda adolescente e não esconde a emoção de hoje fazer parte da equipe. “Isso aqui é minha terapia. Quando a gente vê tudo pronto na avenida, é o ápice do artista. Dá arrepio, emoção. Eu me apaixonei pelo Curro Velho ainda jovem e agarrei essa oportunidade quando apareceu”, conta.
A FCP, por meio do Curro Velho, reforça seu compromisso com a valorização e a promoção da cultura paraense. O desfile das Crias do Curro Velho é mais do que uma manifestação carnavalesca, é um projeto educativo e formativo, onde crianças e jovens aprendem sobre sua própria identidade cultural enquanto constroem, com suas mãos, a festa que levará cor e alegria às ruas de Belém.
Texto: Helena Saria
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